sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Envelhecer é preciso

Outro dia uma amiga comentava que sua enteada não gosta da avó. Intrigada e sempre apaixonada que fui pelos meus avós (não me conformo quando alguém diz não estimar os seus), questionei.
Sabe qual a resposta? Pasme: porque ela é velha!
O que? Como assim? Desde quando os avós têm que ser adolescentes?
Sim, pois ela alega que a senhorinha tem um mau cheiro. Eu já estava com a lágrima pronta para rolar quando não bastando ainda havia a parte em que a pobre velhinha (cheia de amor pela neta) sempre que quer abraçá-la é rejeitada.
Que situação!
Fiquei pensando e como trabalho com crianças e adolescentes, percebo com freqüência a repulsa em relação à velhice. Será que o medo da morte e a ditadura da juventude eterna a todo custo é a causa?
Idolatramos rostos de porcelana, repuxados de plásticas na tentativa insana de esconder as marcas do tempo (nada contra, quem sabe um dia eu também queira isso), mas o fato é que não queremos envelhecer.
Ok, até aí tudo certo. Quem não gostaria de ser “forever Young” como a canção? Quem trocaria a beleza, uma pele lisinha, energia a todo vapor por rugas, pouca agilidade e perda de memória? Ninguém!
Só que estamos esquecendo um pequeno gigantesco detalhe: É inevitável, sabia?
Pois é, melhor acostumar-se com a idéia, pois queira ou não é para lá que caminhamos, faz parte da jornada, do pacote da vida, a não ser que você queira morrer jovem para escapar...
Então, aproveite bem o caminho, curta seu apogeu, mas prepare-se para mais tarde. Comece respeitando quem já se encontra lá.
Porque muitos deles são depressivos? Porque não se prepararam. Acharam por algum motivo lunático que não aconteceria com eles, que viveriam felizes para sempre na terra do nunca. Pode uma coisa dessas?
A idéia de envelhecer me parece um tanto ultrapassada e por isso assusta. Gente, ser velho não significa passar os dias de pijama e pantufas esperando a morte na frente da TV! Isso já era.
É lógico que a disposição não é mais a mesma, mas convenhamos que a busca desenfreada de alcançar objetivos e as preocupações da juventude consomem demais.
Não seria então um ótimo momento para relaxar e ler aquele livro com tempo, dar uma caminhada no parque e rir da correria doida dos jovens espertalhões?
De tomar um bom sorvete numa tarde ensolarada de terça-feira.
De fazer uma viagem e realmente viajar, digo, não pensar naquela pilha de trabalho da volta, que maravilha!
De dormir até mais tarde sem culpa.
De aproveitar o tempo de sobra para um café com amigos.
De curtir a serenidade que só é possível quando não se busca.
Olha, pensando bem, não vejo a hora!

Débora Borsatti